quinta-feira, 31 de agosto de 2023












Fim de Verão


 

Eu podia voltar

A um lugar de nostalgia

E demorar-me em saudades

do brilho e do calor,

dos poentes tardios.

 

Eu podia falar

de mornas memórias

do sol alto e longo,

das areias habitadas

_ das aves ausentes.

 

Mas não há qualquer lamento

nem reticências da vontade

em deixar-me banhar, livre,

no espaço desimpedido,

no odor fresco a maresia,

nos círculos largos

das gaivotas,

no suspirar

do mar,

aliviado.

 

E as folhas podem, então, descer…






 







Regresso

 


Há algo no ar que aponta a “regresso”:

regresso ao olhar largo e desimpedido,

ao horizonte apenas talhado pelo voo

das gaivotas que brincam nos ventos.

 

Regresso aos gestos descontraídos,

livres do assalto de sombras alheias,

da opressão do sol aberto e pesado,

mau grado a ventania costeira.

 

Regresso ao espaço liberto

do estafante caos estival,

das insanas vagas de ruído.

 

Regresso a um mágico silêncio:

ao lugar da voz das ondas,

à música nos passos…






 

 




                                                                        

                           Agosto 

 

O dia acordou cinzento

Com laivos de nostalgia

Sem ponta de cor ou brilho

Que espante mágoas distantes

_ ou cuidados mais presentes.

 

Deixou-se ficar letárgico

Numa almofada de brumas

Sem gestos desenfreados

Nem ideias fantasistas:

O mundo em tons deslavados.

 

Com uma tal disposição

Seria mesmo tolice

Chamar as cores buliçosas

A limpar o pó à vida

_ e inquietar a preguiça.

 

Seja! Que em paz a manhã boceje,

Que a tarde deslize lenta;

                                         E um brando lusco-fusco,

À margem de sol ou de lua,

Apadrinhe o dia inteiro.

 




(pic: Miles Johnston)







sábado, 12 de agosto de 2023


 




Tempo de Verão

 


É tão breve o Verão!

Como um doce bem gelado,

Sem culpa e sem remorsos

_  adeus tristezas!

Ou apenas um lampejo azul

Em ondas de sabor a sal…

 

Um despertar precoce,

Alvorada na voz de pássaros

Sempre em pressa de viver

Sonhos na ponta das asas

Tanta luz a percorrer!

E a ilusão que chama…

 

E é tão longo o Verão!

Nos dias de forçado resguardo

Dos picos de sensações:

Do sol que queima, do vento troante,

Da lata rolante e do ruído contínuo

Em desumana agressão.

 

E o dia-a-dia põe-se,

Tardo e preguiçoso,

No ponto mais longínquo

De um horizonte estirado

Em cores fortes e vibrantes

Sobre areias requeimadas.

 

É tão breve como longo,

O lugar com geografia

E que tem por nome Verão:

Sentimento ou pertença

– longínquo  como a infância –

E que o tempo acabará

Por vir a cobrar em perda.