sábado, 4 de outubro de 2008

...Meia Estação...


...MEIA ESTAÇÃO...




É quase o tempo da estação perdida
É quase certo o reencontro nos aromas limpos
Na luz com segredo e mistério
Mil cantos de aves em despedida.


Partem-se os sóis nos estilhaços de terra
Límpidos, líquidos da visita de mar em espuma,
Verdes e azuis em dolentes danças de algas
Cantos frescos em dourada ressonância.


E as pegadas de gaivota que prendem o céu à terra
Não agrilhoam mágoas nem vertigens de liberdade
Nem cantam alvores de longos dias de enganos.


Então os tardios recados que o crepúsculo lento abriga
Falam de ouro e sangue e íntimo calor que o centro oferece
E que não teme ameaças de invernos nem de rigores



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Casa Das Fontes _ 20/08/08






domingo, 31 de agosto de 2008

SETEMBRO...










SETEMBRO





Finalmente, o mar
Retoma a voz
E a terra oferece já
Alguma unidade
Ao pisar.



O ar sacode os
Fragmentos dos
Tantos
E o espaço
Cintila com mais
Espaço _ e luz.



O espírito desce
Sobre o coração
E a música cobre
O ritmo dos
Passos.




Finalmente,
As asas das gaivotas
Reaprendem a dança
Do resto do
Ano...




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Casa das Fontes – 04/09/06










terça-feira, 19 de agosto de 2008

...Atrever-me...

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ATREVER-ME…

.
.Fechar os olhos e estender os dedos
Atrever-me a desejar tocar a estrela
Ao fundo das pestanas
Filigrana de sonhos entrançados
Em raios de Lua

Fechar os olhos e estender os desejos
Até ao entardecer sem sombra
De lágrimas ou recados de outroras

Atrever-me a dançar no voo
De pétalas, de plumas de pássaros azuis
De alegrias por arrefecer
Diáfanas as madrugadas em braços
De sono

Fechar os olhos e estender o caminho
Aos passos, firmes os telhados
Tinindo de chuva e aconchego,
De lençóis e de rosas sem auroras
Decadências doces e lentas

Fechar os dedos sobre as conchas e ouvir
Para além dos olhos estendidos
Pelos horizontes violetas,
O canto da Sereia cavalgando a onda
Que se aproxima de olhos vendados



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Casa Das Fontes _ 17/08/08




domingo, 17 de agosto de 2008

...Fora Do Tempo...



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FORA DO TEMPO E DE MIM




Fora do tempo
E de mim
Como um raio de
Luar,
A minha alma
Segue a rota
Que a tua luz
Ensina
Tal como a estrada
Marinha que
Traz a lua
A banhar-se:
Não a afoga, antes
A anima
A sorrir, a espraiar-se…


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Casa Da Água _ 04



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terça-feira, 5 de agosto de 2008

...Convite Ao Voo...












...Convite Ao Voo...



O convite ao voo nem
Se faz sentir
_ É a atmosfera própria
Do lugar _
Asas são em volta
E enquanto andamos
Vamos a pairar…

Nuvens são o chão;
A cabeça segue
Pensando que pensa
Enquanto apenas faz
O que dita o coração.


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Sta Clara _01/02











quarta-feira, 23 de julho de 2008

Poesia Não É Coisa Rara...




POESIA NÃO É COISA RARA...


SÓ DE ALGUNS...PARA MUITO POUCOS, NÃO!...



Respira-se,
mais do que se suspira;
infiltra-se,
mais quando se ouve
do que quando se lê,
_algo que volteia
entre pausa e música
_pois também se move
e quase que se morre, por vezes,
só de a sentir...



E às vezes nem dá tempo
de se escrever:
é só um rodopio de ar
entre um golpe de luz
e o odor a mar;

um rasgo de cor
que atravessa
o corpo
quando não sente
estrada,
sapato ou frio,
e, feito de tonto,
se ri da dor;

e também é gente,
grande em gestos pequenos
que fazem o dia;
e é ela a que vê
quando mais ninguém sonha
poder ser de amor
a fome que urge
quando a voz é rude
e maltrata alguém...



_e aí é cura, a poesia: a mão,
a voz, o olhar-ternura...
...e apenas faz o mundo
um pouco melhor


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Casa das Fontes _ 08/02/08




domingo, 13 de julho de 2008

...Meditações...

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COGIMEDITAÇÕES




Também há peixes no oceano

Que se passeia no céu

Quando, tomado de mágoa,

Eleva seu cinzento

Em pesada meditação?

É por estar tão triste

Que chora suas lágrimas

Sobre nós, aliviando

Seu peso, enquanto

Renova seu sustento?
.
.
E é por roubar o céu

Que a sua tristeza

Nos deixa tão “blue” ?

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(Em tempo de "clarissa")03/02





sexta-feira, 11 de julho de 2008

...BEIRA-AMAR...

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... BEIRA-AMAR ...
.
.
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Vives na prega
Do Verão
Onde só o
Vento infringe
O silêncio,
Ou apenas se
Consente o balbuciar
Da onda que,
Gentil, se declina face ao
Portal da Terra.
Aí vem bater,
Trazendo como oferta
Colares de pérolas
Em fios de espuma;
E é aí, onde as pedras
Se fragmentam
Para receber o Céu
Em espelho,
Que, juntos, celebram
Essas visitas.


... E enredas-te no todo:
Ritmo, batida _ e coro _,
Subjugada à magia, maré,
Intuída maestria
Que nos dita _
A quem a ouça _
Quando é
A hora
De entoar a
Melodia que
Gere a
Dança em
Que tudo
Vive.

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Casa das Fontes_08/06







quinta-feira, 3 de julho de 2008




RAIZ DE VIAJAR



Ter raiz de
Viajar
Ser caminhante,
Peregrino
Por bosques
De finas lâminas,
Por entre tempos
Sem tempo
De futuros,
De passados:

Apenas por nostalgia
Do tempo
Que então viria
Para tudo tornar claro

Vidas em folhas
Por outros muitos escritas
Memórias nas
Minhas peles de
Eterno mutante
À espera do momento
De encontrar-me
- Com todos os pedaços
De
Alma
Que darão forma
Final
Ao enorme
Buraco negro
Que se passeia em vida


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Casa da Água - Livro II – 04-05







terça-feira, 1 de julho de 2008

...SOU UM RUMOR...




...SOU UM RUMOR...




Sou um rumor
Sob as espumas

Sou sal
Que pica nos
Olhos

Sou o vento
E a gaivota

O voo alerta,
O abandono;

Sou o calafrio
Em pelo

Sou a pele
Nua e quente

Sou grão de
Areia
Brilhante

Ou o odor
Acre da alga

Sou o gume
Desta casca,

A suavidade
Do seixo


Não sei o que
Não sou ainda
- Mas vou ser!,

Assim o queira.



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Casa da Água - Livro II – 04-05





...SOU A ASA...






SOU A ASA…



Sou a asa que
Sulca o éter,
Fende nuvens,
Fere ventos;
Mas, olhando longe,
Nem alegre, nem
Triste, ignora
A sua gémea
Que partilha
A luta
_ Pelo sempre indiferente…



Sou a onda que
Passeia os seus
Sonhos
Em superfícies de
Rendas de espuma e brilho;
Mas que vive
Do élan que
Revolve os fundos
De oceanos _ sempre,
Sempre, em busca
De algo mais além,

_ Ou apenas de si…



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Casa da Água_03/03


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sábado, 14 de junho de 2008

...VER-TE...


… VER-TE …
.
.
.
Quero ver-te.
E então cerro os olhos, para que
Não se distraiam
Com o brilho que te encobre.


Quero saber-te.
E então viro-me para dentro,
Onde sei que
Te encontro, mais perto do que sem medidas,
Mais perto do que pele com pele.


Quero dizer-te.
E então fecho-me e sigo,
Entre mundos,
Até ao avesso,
Onde as palavras são anacrónicos signos
E a luz mal acompanha o que precisas
Ouvir.

.
E quando te quero comigo, viajo até ao Infinito,
Eternidade presente,
Que só a gente pressente,
Porque sente,
Porque sente…
.
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Casa do Jardim_02

...Da Música Nos Passos...

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...Da Música Nos Passos...


Os meus recantos são
O ninho dos meus passos:
.
Os meus cantos são a carícia do vento,
A melodia sobre o mar, a ternura
Do sol que me visita na pele

Os meus cantos são os espaços
Sem vazio, a ausência
De rastos ou de rostos

Os meus cantos são a luz convexa do orvalho,
A teia de frios da emoção, o leve
Gesto da boca que responde a um
Sorriso-sem-querer e o brilho de um
Olhar que navega na surpresa

Os meus cantos são a dança e
A música nos passos
Quando não vêem o chão
E o mundo não tem recantos
.
_E eu não penso em chegar


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Casa das Fontes_02/06/08


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terça-feira, 10 de junho de 2008

...QUEM SUSPEITA...








SUSPEITA QUEM



Sonha-me uma boca,

Desenha-me um beijo,

Esculpe-me um desejo;

Sem lugar no tempo

Abraça-me no vento,

Dança-me um céu,

(Suspeita quem sou eu).


...


Sem vista, ou horizonte,

Ou a luz da inverdade,

Faz-te claridade

Além sol, estrela ou lua,

Pele ou crença, nua e crua.

És apenas um efeito,

Sem palavras, sem defeito,

Quem suspeita

Quem sou eu.



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Casa das Fontes – 07/06


quarta-feira, 4 de junho de 2008

...LUA...





LUA





Estilhaça-se no

Mar.

O seu poder

Convoca as

Estrelas, que

Descendo, constroem

Sua rota sobre

As águas.

Ela domina o

Seu reino:

A noite não é

Treva!

_ A lua vela _


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Casa da Água - Livro II – 04-05

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...POENTE...

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...POENTE...






Um raio de luz
Atrasou-se
Na chamada que
Lhe fiz.
Alguns espaços, então,
Devo-lhe, e à penumbra,
O ter ficado em
Sossego
_ Enquanto o cortejo
De sóis
Não esperou mais
Por nós, nem quis saber
Mais de mim.
Dei um salto, prossegui, mas
O que então
Consegui
Roubei-o decerto
E só, ao passo
De dança
Do raio de sol
Que não parou
_nem seguiu_
E que continua aqui:
Bem centrado,
No meu eixo,
De tempos sem tempo
Sustento,
Na linha que me
Faz vida.
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Casa das Fontes _ 27/08/06
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sexta-feira, 30 de maio de 2008

...ABRIGO...





…ABRIGO…



Aninho-me no teu

Marulhar,

Plácido manto que

Me embala e, finalmente,

Cala as lâminas do

Pensar.

Goteja a calma

Em cada lento,

Quase langoroso salpico,

Abrigo húmido

Onde não cabem

As raivas ou medos.

Cerro as pálpebras

E abro o olhar

Para o doce palpitar

Da claridade que

Me recebe.

E assim, adormeço a

Corrida do tempo.
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Casa das Fontes_11/09/06


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domingo, 25 de maio de 2008

...ONE...







ONE



Ondas e ondas,

Oceanos de mim

Vão; partem e vão,

Sempre e sempre e

Sem quebrarem, pelo

Caminho anunciando

Que o coração não

Desiste de chegar

À parte de si que

Enviou, antes de

O tempo ser tempo,

Antes de a luz

Te conhecer, antes de

Alguém conceber

Que poderíamos

Não ser

UM


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Casa das Fontes_30/10/06




quinta-feira, 22 de maio de 2008

...OLHAR...

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…OLHAR…


Lancei uma cortina

Sobre os limites

Do oceano;

Reduzi meu horizonte

Pelo mar de neblina:

Cresci no olhar,

Virando a esquina

Do instante.



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Casa das Fontes_06
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quarta-feira, 21 de maio de 2008

...Respira-me...






...RESPIRA-ME...





Respira-me no mar,
.
.
Quando as ondas suspiram


Sobre a areia...


Respira-me na brisa,


Quando ondula os caules


Tenros das plantas...


Respira-me na terra que pisas


E não se queixa


Pois sabe que é mais forte


Do que tu e,


Sintas o que sentires,


Será com carinho que


Um dia te receberá


Antes de te lançar,


De novo,


A voar, no ar que é


Vida inspiradora...


Respira-me no Sol


Que dá cor ao dia...


Respira-me na Lua


Que, pensativa, te mira


E divide o seu encanto contigo...


Respira-me nas estrelas


Que convidam ao sonho


E te polvilham com lampejos de


Infinito...





Por favor, não pares de


Respirar, para que


Também eu


Respire


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Casa do Jardim _ 01








sexta-feira, 16 de maio de 2008

VOU...




VOU…*


Vou…
Vou convidar a vida
A amanhecer
De novo em mim…
Deixar que as estrelas
Desmaiem em mim, seu leito,
Manto de noite finda, em
Descanso de batalhas
Por brilhos e encantos de
Territórios lunares…

Vou…
Vou deixar que
As manhãs me
Percorram e
Acordem o latejar
De sóis por
Abrir…

…Deixar que oceanos de
Lânguidas emoções
Me embalem pelo
Entardecer dos sentimentos,
Em marés de sensações sempre-vivas
Liberta de memórias
Ou fadigas

Enquanto me espraio
Na surpresa que o
Crepúsculo desembrulha
Entre céu
E mar

.
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Casa das Fontes - 30/04/08



* _ Dedicado à minha amiga Maria… e não só…

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domingo, 11 de maio de 2008

...INSTANTE...

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............

..



..................

..
INSTANTE
...



A onda bateu a asa

No dorso do vento;

A gaivota vestiu-se dos

Cristais de

Luz

_ E o céu sucumbiu

À embriaguez do

Momento.

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( Casa das Fontes – 06 )



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quinta-feira, 1 de maio de 2008

...A Minha Cor...



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A MINHA COR




A minha cor é o verde,

Como a simples erva

Que se eleva

Ao encontro do céu

A minha cor é o azul,

Como a exuberante

Plumagem

Do pássaro que

De mim

Voa

A minha cor é o violeta

Como a pétala

De frescura

Onde vem beber

O orvalho...

A minha cor é o laranja,

Como o dia quando nasce, ou

Quando, ruborizado,

Se deita no mar.

A minha cor é o amarelo,

Como a flor

Que gira, a

Distrair o sol

Enquanto o rouba.

A minha cor é o rosa,

Como a nuvem que

Foge ao crepúsculo.

A minha cor é a das cinzas,

Transmutadas na prata

Que a lua desdobra

Sobre o mar.

A minha cor é o dourado,

Como os estilhaços

De estrelas

Que se banham

Na beira-mar

Da noite.

A minha cor é o preto,

Como o manto de sossego

Onde acalmo

O inquieto viver.

A minha cor é o branco,

Como o suspiro de luz

Que cala os

Meus temores.
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01/04 - “Casa da Água”




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